O ex-governador e deputado federal participou do “Poder e Política”, projeto do UOL e da Folha de São Paulo , conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues no estúdio do Grupo Folha em Brasília.O deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ), ex-governador do Rio de Janeiro, comentou a iniciativa fracassada do governo federal de distribuir material sobre educação sexual em escolas públicas. “Estado não tem que escolher se o cidadão deve ser homem, mulher ou optar por um outro sexo”, disse.Garotinho falou sobre o assunto quando questionado sobre declarações do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) a respeito de pastores evangélicos. No Fórum Social Mundial, Carvalho afirmou que o Estado deveria fazer uma disputa ideológica pela “nova classe média”, que estaria influenciada por setores conservadores, como as igrejas evangélicas. Nesta quarta-feira (15) o ministro pediu desculpas aos deputados e senadores evangélicos.O material sobre sexualidade foi elaborado pelo MEC (Ministério da Educação) durante a gestão de Haddad Fernando (PT-SP), que deixou a pasta ser candidato a prefeito de São Paulo. A respeito das eleições, Garotinho disse que, ao menos no Rio de Janeiro, a discussão sobre princípios religiosos terá importância. “O Eduardo Paes [atual prefeito e pré-candidato à reeleição] é um notório defensor de políticas que vão contra princípios cristãos”, disse.DILMA
Na entrevista, o deputado do PR também criticou o governo de Dilma Rousseff. Ele afirmou que a presidente tem feito as intervenções necessárias quando algum ministro se manifesta contra princípios evangélicos, mas classificou o governo como “péssimo”.
“Basta olhar a execução orçamentária do ano passado. Foi pífia. Por exemplo: segurança pública, que é um tema que está em voga hoje. Quanto o governo gastou? O Pronasci [Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania] deveria se chamar “Promorre”, porque não gastou nada”, disse.
Sobre a popularidade em alta de Dilma, Garotinho disse que “Hitler também era [popular]“, mas negou comparar a presidente ao líder nazista. Segundo ele, a afirmação serve apenas para mostrar que as pessoas se enganam ao avaliar um governo.
GREVE DA POLÍCIA
Garotinho falou também sobre a conversa telefônica que teve com o cabo Benevenuto Daciolo, líder da greve no Rio, e que vazou para a imprensa nos últimos dias. Ele negou ter incitado a paralisação e apontou um “equívoco” na posição da presidente de ser contra anistia a líderes do movimento. “A anistia é uma conquista da civilização e do sistema democrático. Anistia é tão importante que a Dilma não seria presidente da República hoje se não fosse a anistia”, disse Garotinho.
Na entrevista o ex-governador do Rio analisou a aliança com o ex-desafeto Cesar Maia (DEM). Os dois lançarão Rodrigo Maia (DEM), filho de Cesar Maia, como candidato a prefeito do Rio. Clarissa Garotinho (filha de Garotinho) será candidata a vice.
Indagado sobre 2014, deu a entender que pretende disputar um cargo majoritário, possivelmente o governo fluminense. No plano nacional, não revelou preferências, mas disse que no PSDB José Serra é mais competitivo do que Aécio Neves numa disputa presidencial. E que Serra deveria ficar fora da disputa pela Prefeitura de São Paulo neste ano .
Transcrição da entrevista:
Narração de abertura: Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira, ex-governador do Rio de Janeiro, tem 51 anos.
Garotinho ajudou a fundar o PT em sua cidade natal, Campos. Depois, no PDT, foi deputado estadual, prefeito de Campos e governador do Rio.
Em 2002 disputou a Presidência da República pelo PSB. Perdeu no 1º turno e apoiou Lula no 2º. Em seguida, filiou-se ao PMDB, e, depois, ao PR.
Em 2010, Garotinho desistiu de concorrer ao governo do Rio. Corria o risco de ficar inelegível por conta de acusação de abuso de poder econômico. Disputou uma vaga na Câmara é hoje é deputado federal pelo PR.
Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo a mais um “Poder e Política Entrevista”.
O programa é uma parceria da Folha de São Paulo, do portal UOL e da Folha.com. A gravação é sempre realizada no estúdio do Grupo Folha em Brasília.
O entrevistado deste programa é o deputado federal, ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho.
Folha/UOL: Governador, ex-governador, deputado federal agora, Anthony Garotinho, muito obrigado por estar aqui. Eu começo perguntando: o sr. foi mencionado agora num episódio recente da greve dos policiais na Bahia, tentativa [de greve dos policiais] no Rio, conversando com um dos líderes. Qual foi sua intenção nessa conversa com esse líder grevista?
Anthony Garotinho: Em primeiro lugar, Fernando, é um prazer está com você e participar desta entrevista que eu normalmente acompanho.
Aquela reportagem que apareceu, na verdade não foi uma entrevista, [foi] uma conversa telefônica entre eu e o cabo Daciolo [Benevenuto Daciolo, do Corpo de Bombeiros do Rio, um dos líderes da greve de fevereiro de 2012].
Eu me tornei admirador e conhecedor do cabo Daciolo quando do primeiro movimento dos bombeiros [que aconteceu em junho de 2011]. Aquele que aconteceu com amplo apoio da sociedade do Rio de Janeiro, quando eles queriam lutar por melhores salários.
Naquele episódio específico [da conversa telefônica com Daciolo] nós estávamos no plenário da Câmara tentando forçar o governo a cumprir a sua promessa de colocar para votar a PEC 300 [Proposta de Emenda à Constituição nº300 de 2008].
Folha/UOL: A PEC 300 que vai criar um piso salarial nacional para policiais.
Anthony Garotinho: Isso. É até boa a sua colocação porque muitas pessoas acham que a PEC 300 vai equiparar o salário dos policiais do Brasil inteiro ao de Brasília. Não é isso. A PEC 300 estabelece um piso. Qual será esse piso? Será estabelecido posteriormente. Mas, por exemplo, pode ser de R$ 2.500 ou de R$ 1.800. R$ 2.000. Isso vai variar de acordo com esse entendimento nacional que será feito. Quem quiser pagar mais, que pague mais.
Eu estava ali conversando [no plenário da Câmara], fui ao Henrique Eduardo Alves [líder do PMDB, deputado pelo Rio Grande do Norte]. Ele disse: “Olha, nós não podemos colocar o governo contra a parede. A iniciativa de colocar a PEC para votar tem que partir do próprio governo”. Nesse momento eu sou procurado pelo deputado Francischini [Fernando Francischini, do PSDB], deputado pelo Paraná. Ele me disse: “Garotinho, acho que a coisa vai estourar também pelo Paraná. Como é que está a coisa no Rio?”. Então eu disse: “Olha eu não sei exatamente, mas posso te ligar agora. Te dar uma resposta agora”. Peguei o telefone, liguei para o meu gabinete. A gravação [do grampo, divulgada pela imprensa] se dá desde o início com a minha secretária dizendo: “Cabo Daciolo, um minutinho que eu vou transferir, fazer uma conferência do sr. com o deputado Garotinho, que está no plenário. E eu pergunto: “Daciolo, e aí como é que está a coisa no Rio? Tem clima para que haja lá um movimento de paralisação?”. E ele diz: “Eu estou na Bahia. Quando eu chegar lá eu te dou uma informação”. Aí eu digo: “Olha eu estou aqui tentando articular a votação da PEC 300″. É só isso a conversa.
Folha/UOL: Agora dá impressão, quando a gente ouve a conversa, daí o sr. poderia talvez esclarecer esse ponto, que parece que o sr. está interessado até que ocorra o movimento no Rio. Ou não?
Anthony Garotinho: Não. Eu estou interessado em saber como está o movimento no Rio, até para dizer ao deputado Francischini, responder a respeito da pergunta que ele me fez.
Folha/UOL: Não havia aí uma intensão do sr. em eventualmente torcer a favor de haver um movimento no Rio?
Anthony Garotinho: Não. Absolutamente. Basta que você ouça a gravação. A gravação é clara. O que houve foi uma manipulação. A Rede Globo de televisão colocou à noite, no dia anterior, uma gravação sem identificar o autor. Colocou ali [no Jornal Nacional]. Pronto. Uma voz de um homem, segundo a Globo, muito importante na República conversando com o cabo Daciolo. Eu havia tido a conversa sobre a PEC 300. Não estava incitando greve nenhuma. A Globo manipulando coloca a conversa da deputada Janira [Janira Rocha, deputada estadual no Rio de Janeiro pelo PSOL], que é uma conversa onde ela fala: “Daciolo não fecha o acordo aí na Bahia antes do caso do Rio de Janeiro, antes do movimento do Rio de Janeiro. Você vai enfraquecer o movimento do Rio de Janeiro. A maneira que você pode ajudar o próprio Prisco, que é o líder [da greve] lá da Bahia é não deixando que o movimento do Rio de Janeiro morra”. Essa é a conversa da deputada Janira, deputada do PSOL. E aquela gravação estranhamente não apresentava quem era o autor da conversa. A Globo botou só uma imagem de um homem, sem mostrar aquela imagem desfigurada, e a voz do cabo Daciolo. Cinco minutos depois já estava no “Radar Online” do Lauro Jardim [colunista da revista "Veja"] que este homem era eu. Eu disse: “Olha, mas Lauro… Não sou eu. A conversa que eu tive sobre Daciolo não estou incitando [a greve]…”. [representando a fala do jornalista Lauro Jardim] “Não, mas a informação que eu tenho é que eles têm a gravação de você incitando”. Eu falei: “Então eu te desafio a colocar [a gravação na internet em "Radar Online]“. No dia seguinte, o Lauro Jardim me liga cedo no dia seguinte dizendo assim: “Olha, está desmentido. Papelão. A Secretaria de Comunicação do governo do Estado nos disse que tinha uma fita de você incitando e agora eu fui cobrar a fita que você me desafiou no seu blog, o Blog do Garotinho, e eu não tenho a fita. Então eu estou me retratando”. Foi muito correto o jornalista Lauro Jardim, que se retratou na sua coluna, dizendo que foi levado a erro pela Secretaria de Comunicação”. O governador Sérgio Cabral tentou tirar o maior dividendo possível em cima desse movimento tentando, claro, fragilizar os seus possíveis adversários.
Folha/UOL: O sr. acha que foi correto o movimento grevista dos policiais na Bahia e depois a tentativa no Rio?
Anthony Garotinho: Eu acho que o momento não foi oportuno. Eu acho que essa greve teria apoio maior da população, como teve a outra dos bombeiros se não fosse no período do Carnaval. Eu acho que o período do Carnaval ficou parecendo uma espécie de pressão fora de hora.
Folha/UOL:A presidente Dilma disse que é contra anistiar esses policiais que se envolveram em atos de crime contra o patrimônio, por exemplo. O sr. acha que é correta essa posição? Não devem ser anistiados, devem ser punidos esses policiais?
Anthony Garotinho: É um equívoco da presidente Dilma. Porque a anistia é uma conquista da civilização e do sistema democrático. Anistia é tão importante que a Dilma não seria presidente da República hoje se não fosse a anistia. E ela fez coisas muito piores que os bombeiros.
Folha/UOL: Mas lutando contra a ditadura…
Anthony Garotinho: Sim…
Folha/UOL:…agora é uma democracia.
Anthony Garotinho: Sim. Nós estamos numa democracia. Mas o Lula, por exemplo, fez também greve. Você não pode dizer que…
Folha/UOL: Mas também durante a ditadura.
Anthony Garotinho: Sim. Mas não é porque nós estamos vivendo um período democrático que nós vamos impedir que as pessoas não tenham o direito de se manifestar porque são militares.
Folha/UOL: Mas eles se manifestando com arma na mão, bloqueando ruas. Isso é correto?
Anthony Garotinho: Isso ocorreu na Bahia, não ocorreu no Rio. Eu estou separando as coisas.
Folha/UOL: Nesse caso da Bahia, por exemplo, se o sr. tivesse que analisar, o sr. diria que é correto esse tipo de atitude ou é incorreto?
Anthony Garotinho: Eu acho que a atitude dos baianos, dos policiais baianos, foi uma atitude que se radicalizou em função do comportamento do governador Jaques Wagner [do PT], que, anteriormente, havia incitado esses mesmos policiais à greve quando não era governador.
Folha/UOL: Deputado Garotinho, o sr. é um líder evangélico. Qual é sua avaliação sobre as declarações recentes do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, a respeito dos evangélicos?
Anthony Garotinho: Eu acho que foram infelizes. O ministro Gilberto Carvalho não pode ter uma opinião quando está conversando com os evangélicos e uma outra opinião quando está no Fórum Social Mundial. O que foi que ele disse e que me causa tanto espanto? Ele disse: “Nós do governo, nós do PT, precisamos montar uma rede de comunicação capaz de vencer os evangélicos no embate ideológico que nós teremos com eles”. Primeiro eu quero saber: qual é o embate ideológico que ele quer travar com os evangélicos? Porque os evangélicos não defendem ideologia, mas princípios. São coisas diferentes. Existem evangélicos de direita, de centro e de esquerda. Eu por exemplo, sou um político que sempre tive posições de esquerda. Mas eu conheço evangélicos de direita. Mas eu não abro mão dos meus princípios. Então não se trata de uma luta ideológica. Primeiro eu queria entender do que se trata a luta ideológica. Segundo: como ele vai montar esse sistema de comunicação? Que sistema é esse? Ele diz assim: “Esses telepastores ocuparam os meios de comunicação e fazem a cabeça dessa classe média emergente. E nós não podemos aprovar temas como aborto, que eles não deixam. Não avançamos mais na questão… naquele material pedagógico nas escolas…”. [Esse material] que eles chamam de combate à homofobia, e que não é combate à homofobia, é um direcionamento para uma opção sexual. Isso não é papel de Estado. O Estado não tem que se meter na vida pessoal das pessoas. O Estado não tem que escolher se o cidadão deve ser homem, mulher ou optar por um outro sexo. Isso não é papel do Estado.
Folha/UOL: Qual é a força dos evangélicos hoje no Congresso Nacional? Qual é o tamanho das frentes que reúnem deputados e senadores evangélicos hoje?
Anthony Garotinho: Olha, nós temos 74 deputados [federais, de um total de 513] evangélicos, que estão juntos com uma parte da bancada católica. Existe uma parte católica mais ativa, na qual se inclui por exemplo o deputado Eros Biondini [do PTB de Minas Gerais] e o deputado Carimbão [Gilvaldo Carimbão, do PSB de Alagoas], que são católicos militantes. E no Senado são em torno de oito senadores [evangélicos, de um total de 81 senadores].
Folha/UOL: Qual é o poder que tem essa bancada evangélica? Ela atua de maneira orgânica?
Anthony Garotinho: Só naqueles pontos que tratam de princípios. Fora disso não. Por exemplo, no caso do Regime Diferenciado de Contratação [que flexibilizou as licitações para obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016]. Boa parte dos evangélicos apoiou. Eu fui contra, porque eu acho que fere a Lei de Licitações, e é ruim para a democracia brasileira. No caso, por exemplo, da Lei Geral da Copa. Eu sou radicalmente contra fazer o tipo de concessão que o Brasil está fazendo [para as exigências da Fifa]. Já outros evangélicos votam de maneira contrária, ou seja, favorável à lei proposta pelo deputado Vicente Cândido [do PT de São Paulo]. Então nós não somos iguais. Eu por exemplo tenho uma postura radicalmente contra o presidente da CBF [Ricardo Teixeira]. Inclusive eu o estou investigando o sr. Ricardo Teixeira através de uma proposta de Fiscalização e Controle. Tem muitos evangélicos que são amigos do Ricardo Teixeira. Mantêm boas relações com ele. Vieram até me fazer pedidos para encontrar com ele. Alguns não tiveram nem coragem de assinar a CPI da CBF. Então eu quero dizer o seguinte: só nas questões em que tratamos de princípios nós votamos juntos.
Folha/UOL: Nas eleições municipais deste ano, 2012, o sr. acha que a atuação dos políticos da bancada evangélica ou o movimento em geral terá uma atuação de que forma? Por exemplo, no caso de São Paulo, o candidato do Partido dos Trabalhadores [PT] a prefeito deve ser Fernando Haddad, que foi ministro da Educação e teve envolvido no seu Ministério esse kit de informações a respeito de homofobia nas escolas. Como o sr. acha que esse tema vai ser tratado nas eleições?
Anthony Garotinho: Olha, confesso a você que, pelo menos no Rio de Janeiro, esse tema vai ter uma importância muito grande. Porque o posicionamento em relação a princípios do atual prefeito, Eduardo Paes [do PMDB], embora ultimamente ele tenha recebido apoio de alguns pastores, é muito complicado. O último filme da Prefeitura do Rio de Janeiro para divulgar a cidade do Rio de Janeiro no exterior, divulgado pela Riotur [Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro] foi obrigado a ser retirado do Youtube. Apareciam dois homens se beijando no filme durante um longo e afetuoso beijo e duas mulheres se beijando. Quando ele sentiu a repercussão desse filme, ele retirou. Então o Eduardo Paes é um notório defensor de políticas que vão contra princípios cristãos. Não são princípios evangélicos. Quem mais tem combatido de forma veemente a atitude tomada por alguns governos é o Papa [Bento XVI]. Recentemente o Papa Bento deu uma declaração importante a esse respeito, que a Igreja Católica tem o dever de guardar os princípios que ela defende.
Folha/UOL: Não é segredo para ninguém, todos nós acompanhamos em 2010 esse tema num determinado momento da campanha presidencial foi muito forte. Tema dos valores cristãos, princípios cristãos como o sr. diz. O sr. acha que esse tema, ele voltará de maneira forte, de maneira generalizada na eleição de prefeitos neste ano portanto?
Anthony Garotinho: Eu creio que sim. Por quê? Quando você vota para escolher um prefeito, um governador, um presidente, você não vota só para escolher um administrador. Administrar é uma parte importante de um líder. Porque um prefeito é um líder de uma cidade. Um governador é um líder de um Estado. Ele inspira pessoas. Ele transmite valores. Então eu creio que este assunto será importante também. Você não vota para escolher um gerente. O prefeito também é um gerente. Mas o prefeito além de gerente, é um líder, que inspira. Ele transmite pensamentos.
Outro dia dando uma entrevista a outro veículo de comunicação, e tecendo uma crítica a pessoas que não têm claramente uma definição, a repórter me disse assim: “Mas como o sr. pode explicar uma aliança do sr. com o Cesar Maia?”. Eu disse: “Olha, é muito mais fácil explicar uma aliança de duas pessoas que têm posição do que de quem não tem posição”. Aí disse para ela: “Eu sou um nacionalista. Um trabalhista, sempre me defini assim, não mudei. O Cesar Maia é um liberal”. Aí eu perguntei: “E o Sérgio Cabral é o quê?”. Ela disse: “Ele é… sei lá”. Ele é oco.
Folha/UOL: Mas, já que o sr. mencionou sua aliança com Cesar Maia neste ciclo eleitoral. Tudo aquilo que o sr. disse sobre ele e ele disse sobre o sr. está superado?
Anthony Garotinho: Olha, não é que esteja superado. Mas em momentos da história, as alianças são necessárias para combater o mal maior, que é o que está estabelecido no Rio hoje. A aliança entre Sérgio Cabral, os meios de comunicação comprados, a mídia do Rio de Janeiro hoje é uma mídia comprada. Absolutamente vendida ao governo. As notícias mais importantes sobre o Rio de Janeiro saem na imprensa de São Paulo. Não saem na imprensa do Rio de Janeiro. E, vamos dizer assim, aquela elite…
Folha/UOL: O sr. não está exagerando um pouco?
Anthony Garotinho: Não. Não estou. Basta que você faça um acompanhamento crítico a respeito do que ocorre hoje nos jornais do Rio de Janeiro. Eu te pergunto: um governador que tivesse dito que as mulheres moradoras de favelas são fábricas de marginais… Quem disse isso foi o Sérgio Cabral. Um governador que tivesse mandado prender 436 bombeiros de uma vez só, fato que nem a ditadura militar, a não ser naquele congresso [da UNE] de Ibiúna, mandou prender tantas pessoas de uma vez. Um governador que tivesse chamado os médicos de vagabundos. Um governador que tivesse chamado os professores de preguiçosos. E outras pérolas que o Sérgio Cabral tem feito… Ou então um governador que tivesse viajado em aviões de empresários famosos, que ganham contratos milionários, com incentivos fiscais do governo. Um governador que tivesse concedido, como ele concedeu, incentivos fiscais ao seu cabeleireiro particular. Um governador que, numa situação, vamos dizer assim, mais hilária possível, a sua mulher é flagrada advogando para os concessionários do Estado. Metrô e SuperVia. Ele diz assim: “Não, essas empresas contrataram a minha esposa porque a Adriana é a melhor advogada do Brasil”. O que é que teria acontecido com esse governador se ele não estivesse blindado?
Folha/UOL: Bom, mas deixa eu voltar aqui pro tema, porque a gente começou falando da sua aliança com César Maia. O sr. tem muitas frases desairosas sobre César Maia e ele sobre o sr. em algum momento…
Anthony Garotinho: Mas eu não deixei de ser um trabalhista, nem ele um liberal. Nós estamos unidos em cima de uma carta de princípios, que será lida no próximo dia 27 [de fevereiro] lá no Centro de Eventos do Sulamerica, que se chama “Aliança Republicana e Democrática”. Republicana do PR e democrática dos Democratas.
Folha/UOL: Já é um fato consumado então que haverá uma aliança entre o PR e o Democratas…
Anthony Garotinho: Em todo o Estado do Rio de Janeiro.
Folha/UOL: Nas eleições o sr. acha possível que a frente parlamentar da qual o sr. faz parte atue para orientar os eleitores de maneira orgânica? Ou não, cada um em seu estado.
Anthony Garotinho: Não porque infelizmente muitos evangélicos fazem alianças mais pelos seus interesses eleitorais do que pelos princípios.
Folha/UOL: A presidente Dilma fez uma declaração se comprometendo com determinados princípios e valores na sua campanha para presidente em 2010.
Anthony Garotinho: Eu me lembro.
Folha/UOL: Ela recentemente nomeou como ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres a socióloga Eleonora Menicucci, que tem posições mais liberais a respeito de determinados temas, como por exemplo aborto. Ao nomear alguém com esse perfil a presidente continua fiel à sua promessa ou não?
Anthony Garotinho: Isso nós só saberemos com o tempo, né? Vamos aguardar que a política de governo não seja a política da ministra, mas seja a política da presidente. Isso é no que nós confiamos. Vamos estar atentos e esperar que ela cumpra com aquela carta que ela enviou aos católicos e aos evangélicos. Ela foi até Aparecida [cidade do interior de São Paulo], onde assumiu um compromisso com a Igreja Católica. Ela foi até encontros promovidos com evangélicos e discutiu abertamente esse assunto e disse: “Eu não vou me intrometer nas questões pessoais”. E é isso que nós desejamos.
Folha/UOL: O sr. acha que, por enquanto, a presidente tem cumprido a promessa dela?
Anthony Garotinho: Olha, pelo menos todas as vezes em que ela é alertada de que algum de seus ministros não está cumprindo, ela se posiciona. Por exemplo, no caso das cartilhas. Ela estava enganada. Pelo que ela disse as cartilhas extrapolavam…
Folha/UOL: As cartilhas sobre relacionamento homoafetivo?
Anthony Garotinho: Não. Não era isso. Se fosse isso, perfeito. Combater a homofobia. Era o discurso. “Vamos combater a homofobia”. Eu também sou contra. Aliás, como governador eu fui o primeiro do país a criar o DDH. Disque Denúncia Homossexual. Qualquer violência contra o homossexual deve ser combatida. Só que aqueles vídeos e aquelas cartilhas eram promoção de uma opção sexual.
Por exemplo, havia um vídeo chamado “Procurando Bianca”. O que é procurando Bianca? Eu nasci Pedrinho. Em determinado momento da minha vida, descobri que eu posso ser… não ser Pedrinho. Eu posso ser Bianca. E meu pai não gostou dessa ideia. Meu pai achou que isso não era bom. Mas mesmo assim eu decidi ficar firme na minha opção. Aí eu descobri uma coisa melhor: que sendo Bianca ou Pedrinho não faz diferença, porque eu tenho 50% de possibilidade de ser feliz como Pedrinho, 50% de ser feliz como Bianca, então a probabilidade é maior se eu tiver duas opções sexuais. Peraí. Você vai ensinar isso para uma criança? Isso para mim e para você vira até um filmezinho bobinho. Mas para um garoto na escola que está se formando, está formando o seu pensamento, isso não é uma coisa correta.
Folha/UOL: Voltando à nomeação da nova ministra das mulheres, ela tem dito que tem uma posição histórica a respeito de determinadas políticas, como, por exemplo, ser a favor da descriminalização do aborto. Mas que agora cabe ao Congresso decidir. O sr. acha que essa é a posição correta?
Anthony Garotinho: Correta. Por isso que eu disse: vamos esperar para ver se é a política da ministra ou se é a política do governo.
Folha/UOL: O sr. acha que a presidente Dilma tem feito um bom governo, médio ou ruim?
Anthony Garotinho: Você quer que eu fale da percepção que as pessoas acham…
Folha/UOL: Não, da sua.
Anthony Garotinho: Da minha? Péssimo.
Folha/UOL: Péssimo governo. Por quê?
Anthony Garotinho: Péssimo. Porque, como você mede um governo? Você mede um governo por critérios objetivos e não por sensação. Qual é o critério objetivo para você medir um governo? A execução orçamentária do governo. Basta olhar a execução orçamentária do ano passado. Foi pífia. Por exemplo: segurança pública, que é um tema que está em voga hoje. Quanto o governo gastou? O Pronasci [Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania] deveria se chamar “Promorre”, porque não gastou nada. É um programa que está indo para o fundo do poço. Você pega…
Folha/UOL: Mas o sr. não vê nenhum mérito então no governo federal?
Anthony Garotinho: Não. Eu não disse isso.
Folha/UOL: Se é péssimo?
Anthony Garotinho: Não. Você perguntou como eu estou vendo o governo até agora, até agora. Aí a execução orçamentária… Eu não estou julgando pela sensação. Qual é a sensação que se tem? Sensação que a presidente Dilma está fazendo um combate muito forte à corrupção. Não.
Folha/UOL: Não está?
Anthony Garotinho: Não.
Folha/UOL: Tem mais corrupção hoje ou menos?
Anthony Garotinho: Eu acho que ela está tirando do governo pessoas que foram colocadas pelo ex-presidente Lula e ela não poderia não saber dessas questões já que ela era a chefe da Casa Civil.
Folha/UOL: Sim, mas tem mais ou tem menos corrupção hoje?
Anthony Garotinho: Hoje?
Folha/UOL: É.
Anthony Garotinho: Olha, eu diria a você que continua no mesmo nível. Não aumentou nem diminuiu. O que eu reclamo é da ação administrativa. Me diga uma coisa com sinceridade. Você e aquele que nos ouve e que nos assiste. O PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. Ele está andando? Não. O Minha Casa, Minha Vida, ele está andando? Não. O programa de recuperação das rodovias federais está andando? Não. A execução de políticas de segurança está andando? Não. O Sistema de Saúde… Diga-se de passagem, um dos melhores ministros do governo, em termos de atuação, é o ministro Padilha. Mas a Saúde não anda. O ponto de avanço que nós poderíamos ter com a Emenda 29 [texto aprovado em 2011 no Congresso e que fixa gastos mínimos da União, Estados e Municípios com saúde pública] ela [a presidente Dilma] vetou, que seria reajustar o orçamento toda vez…
Folha/UOL: Como é que o sr. explica que ela tenha uma aprovação tão grande?
Anthony Garotinho: Ué, Hitler [Adolf Hitler, líder nazista] também teve. Isso não quer dizer nada. Quando você tem uma sociedade onde…
Folha/UOL: O sr. está comparando a presidente Dilma a Hitler?
Anthony Garotinho: Não, não, não. Eu estou comparando… Por favor, não diga isso Fernando. O que eu estou dizendo é que popularidade não mede eficiência de governo. Você me perguntou o que eu acho da eficiência do governo. Se o governo é bom ou ruim. Você não me perguntou… Por isso que eu falei: “Você quer que eu fale da percepção das pessoas…”
Folha/UOL: Mas porque é que as pessoas têm essa percepção? Isso é falso?
Anthony Garotinho: Não. Porque, primeiro, o ambiente econômico do Brasil é bom. Há mais empregos sendo criado no Brasil. Há mais renda sendo distribuída no Brasil.
Folha/UOL: O governo não teria mérito nisso?
Anthony Garotinho: Não, tem. O que eu ia te dizer: são dois parâmetros para se medir um governo. Um é a eficiência na aplicação das políticas públicas. E outro é a atuação do governo na macro economia. Aí vai bem. Ok? São dois parâmetros. Se eu dissesse para você que a economia vai mal, eu estaria mentindo. A economia vai bem. As respostas do Brasil, inclusive diante da crise mundial, foram boas. Mas o que eu falo é o seguinte: 50% a 60% do governo são os resultados práticos das suas políticas. Qual foi a política do governo para agricultura, para segurança, para as estradas, para saúde, para a educação? Então foram políticas que não deram resultado até agora.
Folha/UOL: O que o sr. vai… O que nós podemos imaginar para sua carreira política? O sr. vai fazer 52 anos agora em abril, não é isso? O que nós podemos imaginar dos seus planos futuros? O sr. já desejou ser presidente da República e não teve sucesso. O sr. pretende em 2014 disputar algum cargo majoritário?
Anthony Garotinho: Olha, eu acho que depende do que você entende como sucesso. Eu disputei a Presidência da República [em 2002] e tive mais de 15 milhões de votos com um minuto de televisão. Fiquei a a três pontos de José Serra [candidato do PSDB à Presidência em 2002] que foi ao segundo turno com [contra] o Lula [candidato do PT]. Não me deixaram disputar a eleição seguinte [de 2006], criando uma mentira que, finalmente, eu venci na Justiça, de que eu havia viajado num avião de um traficante. A “Veja” publicou isso na primeira página às vésperas da convenção do PMDB [partido ao qual Garotinho era filiado em 2006] para me impedir de ser candidato, por desejo dos tucanos e dos petistas, que não queriam um terceiro nome para quebrar essa polarização que existe hoje no Brasil. Eu não sei. Eu não estou preocupado com o dia de amanhã. Eu quero se rum bom deputado federal. Meu nome hoje lidera as pesquisas no Rio de Janeiro para governador [cargo para o qual haverá eleições em 2014], as que eu tenho acesso e as que têm sido feitas pelo Palácio Guanabara. Eu tenho em torno de 40% [de intenção de votos], o segundo colocado é o senador Lindbergh [Lindbergh Farias, do PT do Rio de Janeiro] com 17%. Os candidatos do governo aparecem com 4%, 5%, que são o vice-governador [Fernando Pezão] e o secretário Beltrame [José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro]. Mas isso é ainda muito cedo. Vamos aguardar. Tudo pode acontecer. Eu quero dizer só a você o seguinte: essa ideia de Presidência da República… com quantos anos o Lula foi presidente? Com quantos anos a Dilma foi presidente? Você disse: você vai completar 52 anos! Tem muita estrada pela frente.
Folha/UOL: O sr. acha que, jogando para frente o cenário atual, em 2014 teremos quais forças principais disputando a sucessão junto à presidente Dilma se ela vier a ser candidata à sucessão?
Anthony Garotinho: Tudo vai depender de Lula. Lula hoje é um grande eleitor. Não há dúvida, não há como negar. Pode-se ter divergência com ele. Mas ele é um grande eleitor. As informações que eu tenho é que, antes de adoecer, e por isso eu digo que tudo depende do Lula, o Lula estava já incomodado em ficar de fora da vida pública. E que ele dava como certa a volta dele. Se ele se recuperar e for candidato, eu acho que vai haver uma concentração em torno dele. Sendo a Dilma a candidata, aí eu já não sei. Eu acho que nós teremos aí a Marina, teremos o PSDB, que precisamos saber se ele vai ficar inteiro até lá, entre José Serra [do PSDB de São Paulo] e Aécio Neves [do PSDB de Minas Gerais], e vamos ter uma candidatura mais à esquerda, uma candidatura talvez do PSOL.
Folha/UOL: O sr. mencionou o PSDB. José Serra e Aécio Neves. Qual dos dois o sr. acha mais competitivo?
Anthony Garotinho: No momento? Eu acho [que é] José Serra.
Folha/UOL: O sr. acha que ele [José Serra] deve ser candidato a prefeito de São Paulo? Tem essa especulação.
Anthony Garotinho: Ah, eu não quero me meter nisso. Os tucanos já brigam demais…
Folha/UOL: O sr. é do Rio de Janeiro, pode falar à vontade.
Anthony Garotinho: Eu acho que o Serra não devia ser candidato. Devia se guardar para o cenário nacional.
Folha/UOL: E o PR, o que deve fazer em São Paulo?
Anthony Garotinho: Você quer saber minha opinião?
Folha/UOL: Sim.
Anthony Garotinho: Candidatura própria. Buscar um candidato próprio.
Folha/UOL: Muito bem. Deputado Anthony Garotinho, muito obrigado por sua entrevista.
Anthony Garotinho: Muito obrigado a você e a todos do UOL
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
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